Agropecuária Brasil e Mundo

A produção agropecuária é diversificada e a classificação dos sistemas agropecuários variam de acordo com:

      • O desenvolvimento tecnológico aplicado na produção;

      • O grau de capitalização, ou seja, a quantidade de dinheiro investido na produção;

      • A estrutura fundiária (tamanho das propriedades rurais);

      • As relações de trabalho;    

    Antes de aprofundarmos nos sistemas agrícolas, é importante saber a diferença entre agropecuária e agronegócio, bem como a sua contribuição para o PIB nacional:

    Agropecuária Agronegócio/complexo agroindustrial
      Restringe-se ao cultivo agrícola e criação/abate de animais.Agropecuária contribui para 4,95% do PIB brasileiro     Abrange toda cadeia produtiva: sementes, máquinas, adubos, rações, vacinas, frigoríficos, embalagens, transporte, empresas de comércio exterior do ramo, etc.Agronegócio contribui 25% do PIB brasileiro  
    Sistema agropecuário é classificado em: intensivo e extensivo.
    Agricultura intensiva – alto grau de mecanização; requer preparo químico do solo através do uso de insumos; possui elevados índices de produtividade.
    Agricultura extensiva – baixo grau de mecanização; maior utilização de mão de obra; utilização de técnicas rudimentares, baixo índice de produtividade.
    Pecuária intensiva – maior número de gado por hectare; maior uso de ração e assistência veterinária.
    Pecuária extensiva – gado se alimenta de pastos naturais, menor produtividade.

    Pecuária extensiva: economia e impacto ambiental

    No Brasil, a pecuária extensiva é responsável por cerca de 93% do rebanho bovino, tendo nas pastagens sua principal fonte alimentar. Esse tipo de sistema de produção apresenta um dos menores custos de produção de carne do mundo. No entanto, por esse mesmo motivo, a degradação das pastagens tem sido um grande problema para o setor, causando prejuízos econômicos e ambientais.

    • No Brasil a pecuária extensiva tem provocado:
    • Expansão da fronteira agrícola para  a região norte.
    • Desmatamento

    *Degradação ambiental. “Dos 172 milhões de hectares de pastagens do Brasil, mais de 60% encontram-se em algum estágio de degradação” Considerando que 25% do PIB vem do agronegócio, desse total apenas 30% é da pecuária e os 70% da agricultura. A pecuária é a atividade que mais devasta biomas no Brasil e a que menos contribui para o PIB no setor.” https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/986147/1/DOC402.pdf]

     

    No Arco do desflorestamento existe 60 milhões de cabeça de gado, 1/3 de todo rebanho brasileiro. A produção de carne bovina nas regiões norte e centro-oeste já supera a tradicional região de produção do sul do Brasil. Essa produção tem como principal destino o abastecimento doméstico e o mercado chinês.

     

    Fonte: http://www.geodegrade.cnpm.embrapa.br/blog/-/blogs/a-pecuaria-extensiva-no-brasil  
     

    Principais sistemas agrícolas são:

        • Agricultura familiar;

        • Agricultura de subsistência;

        • Agricultura empresarial;

        • Belts;

        • Jardinagem;

        • Cinturões verdes e bacias leiteiras.

      Agricultura familiar

      Sistema de produção desenvolvido pelo trabalho familiar. Pode gerar emprego extra familiar, fixa famílias no campo,  diminui êxodo rural. Geralmente produz para abastecimento interno, mas em menor quantidade, pode através do cooperativismo  participar do mercado mundial/cadeias produtivas agronegócio.

          • Tipo de agricultura desenvolvida em pequenas e médias propriedades de até 100ha.

          • Diversidade alimentar.

          • Forte participação para abastecimento de um país.

          • Hoje 70% dos alimentos que estão na mesa dos brasileiros são produzidos por esses produtores, que também detêm 70% da mão de obra ocupada no campo. IBGE, 2020.

        Agricultura familiar de subsistência:

        É aquela voltada para o próprio consumo; baixa produtividade, roças, técnicas de queimadas. Estão presentes, sobretudo no nordeste. A agricultura familiar de subsistência podem ser cultivadas em:

        • Parceria – quando o agricultor aluga a terra e paga através de parte de sua produção.
        • Arrendamento – quando o aluguel é pago em dinheiro.
        • Regime de posse: quando os agricultores plantam em terras desocupadas pertencentes ao estado, por exemplo.

        Realidade ainda existente nos países da África Subsaariana, do sul e Sudeste Asiático e América Latina.

        Agricultura de Jardinagem

        É um sistema de produção agrícola  onde as plantações são  realizadas em terraços inundados. Esse sistema é muito comum no sul e sudeste Asiático em países como Filipinas, Tailândia, Indonésia, China, Coreia do Sul, Taiwan e Japão. Outras 

        Principal atividade neste sistema de plantio: Rizicultura (plantio do arroz).

        Principal região: Sudeste Asiático. Esta região é responsável pela produção de 1/4 de todo arroz produzido no mundo.

        Relações de trabalho: Alta empregabilidade. Utilização intensiva de mão de obra.

        Estrutura fundiária: Pequenas e médias propriedades familiares, nos países em desenvolvimento. No Japão, Coreia do Sul, este plantio ocorre de forma moderna – Seleção de sementes, uso de fertilizantes,  técnicas de preservação do solo e uso de biotecnologia – grandes propriedades e por isso é altamente produtiva.

        Aspecto ambiental: Sistema ambientalmente correto. O plantio ocorre em terraços, planícies e/ou em curvas de nível, neste caso de modo a evitar a erosão causada pelo escoamentoe reter, em maior grau, a água para infiltração.

        Agricultura empresarial ou patronal (Agricultura comercial, de exportação ou capitalista)

        Características da agricultura comercial:

        Relações de trabalho: Mão de obra contratada e qualificada (Engenheiros agrícolas, agrônomos, químicos etc.)

        Produção altamente capitalizada: integrada aos sistema bancário/financeiro; 

        Modo de produção: intensiva com a utilização de técnicas, seleção de sementes, uso de insumos, agrotóxicos, elevado grau de mecanização.

        Produção agrícola padronização. Altamente produtiva e especializada monoculturas/commodities.

        Estrutura fundiária: Menor número de propriedades e ocupação de maiores áreas.

        Abastecimento interno e externo – nos países desenvolvidos (Canadá, Austrália, países da União Europeia).

        Produção agrícola no Brasil

        • O Brasil é o maior produtor de cana do mundo; 60% dessa cana é produzida no interior paulista.
        • O Brasil é o segundo maior produtor global de etanol, porém, muito atrás dos Estados Unidos que é o maior produtor, consumidor e exportador do biocombustível no mundo.
        • O principal mercado para o etanol brasileiro continua sendo o interno.
        • Os frangos são o maior rebanho de animais do Brasil, com mais de 1,5 bilhão de cabeças. A maior parte do faturamento corresponde a região sul do Brasil, com destaque para o Paraná.
        • O Mato Grosso lidera a produção nacional de milho, com um volume maior do que as regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul somadas.
        • A maior parte da produção brasileira de pecuária de corte abastece o mercado doméstico. Nas exportações, assim como a soja, a carne bovina tem a China como principal destino.

        Pequena produção e a cadeia produtiva

        Em alguns setores, a agricultura de médio e pequeno porte participam das cadeias agroindustriais:

        • O Brasil é segundo maior produtor de tabaco no mundo. O fumo é produzido na região centro-sul em pequenas e médias propriedades.
        • produção de laranjas no Brasil é a maior do mundo. É produzido em pequenas e médias propriedades.
        • Café orgânico representa 17% de toda a exportação nacional. Europa é o principal mercado consumidor. Produzido em pequenas e médias propriedades.

        A biotecnologia e os transgênicos

        É um conjunto de técnicas aplicadas à biologia utilizadas para manipular plantas, animais e microrganismos por meio de seleção, cruzamentos e transformação no código genético.  A manipulação genética é a mais moderna tecnologia aplicada a agropecuária  através dela pode-se alterar o tamanho das espécies e torná-las mais resistentes a pragas e doenças; adequar espécies a tipos de solos de climas; retardar a deterioração dos produtos agrícolas após a colheita  – os vegetais derivados de alteração genética são chamados de TRANSGÊNICOS. Os transgênicos permitem o cultivo de espécies de áreas temperadas em áreas tropicais como o trigo, soja e uva. Acelera o ritmo de crescimento da planta e engorda dos animais.Aumenta o teor de vitaminas, proteínas e sais minerais nos alimentos, bem como, aumenta o tempo de amadurecimento e deterioração dos vegetais.

        Agricultura orgânica

        Sistema de produção que não utiliza nenhum produto agroquímico – fertilizantes, inseticidas, herbicidas e produtos geneticamente modificados. A adubação do solo é feia com matéria orgânica, ou seja, compostagem. Este uso permite o combate de pragas através de predadores e espécies naturais. Nesse sistema, há uma preocupação com os recursos naturais e alimentação mais saudável. Porém, em função dos elevados custos de produção, o consumo é restrito a classe econômica mais abastada pois, o custo de reparação ambiental é repassado para o preço do alimento. Algumas características da agricultura orgânica são:

            • Em geral está relacionado a pequenas propriedades familiares e policulturas.

            • A comercialização dos orgânicos requer por lei a certificação (ABNT, Inmetro) de estar livre de agrotóxicos.

            • Austrália, Brasil e Argentina são os países que mais produzem orgânicos.

            • No caso brasileiro  80% é realizado por agricultores familiares e é exportado para EUA, União europeia e Japão.
            • Principais produtos exportados pelo Brasil:  café, mel, leite, açúcar, frango.

          Questões que tangenciam o setor: infraestrutura, política e social

          A infraestrutura de transporte, concentrada no moda rodoviário, encarece o produto brasileiro em torno de 25% no mercado internacional.  A produção do centro-oeste, por exemplo,  é escoada pelos portos do Sudeste. A soja viaja cerca de 2mil km de distância por meio de caminhões. Além disso, ocorre uma carência de infraestrutura nos portos e no embarque da produção, o que resulta em longas filas de espera.

          Um outro fator que afeta a produção agropecuária, sobretudo a produção familiar, é Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) Trata-se de um grupo de deputados e senadores que defendem os interesses do agronegócio e , por possuírem representatividade (214 deputados de 513 em 2020), conseguem aprovar emendas constitucionais de seus interesses, tais como :

            • flexibilização da legislação ambiental (novo código florestal aprovado em 2012 e favorável ao setor);

            • financiamentos a juros baixos de máquinas e equipamentos agrícolas, bem como subsídios;

            •  restrição de investimentos em políticas de reforma agrária,

            • restrição de demarcação de terras indígenas e quilombolas

            • flexibilização no uso de agrotóxicos

          Fronteira agrícola

          A partir de 1970, a fronteira agrícola se desloca da região sul e sudeste em direção ao centro-oeste e Amazônia. O principal produto já era a soja, uma espécie de oleaginosa típica de clima temperado. A Embrapa (Empresa brasileira pesquisa agropecuária) criou tecnologias para o melhoramento da produção no cerrado, tais como a calagem, para correção da acidez do solo e a seleção de sementes, bem como a adaptação da soja para suportar clima tropical e equatorial. A soja é considerada o petróleo do campo devido a sua versatilidade (leite, carne, queijo, ração, biodiesel etc.), e por isso, de grande valor do mercado mundial.  

          Matopiba – Trata-se de uma área geográfica caracterizada pela expansão de uma nova fronteira agrícola, sobretudo no séc. XXI. Embora essa área seja caracterizada pela presença de solo ácido, lixiviado e aluminotóxico, o relevo suave da região facilita a sua mecanização. As principais culturas produzidas nesta região são: soja, milho e algodão em áreas predominantemente de cerrado.

          Estrutura fundiária

          É a forma como o recurso terra se divide em propriedades, de acordo com o processo histórico da área analisada e também com as leis da propriedade estabelecidas pelo Estado. Sobre os marcos juridicos que regulamentam as terras no Brasil, destacam-se:

          • 1822 ( independência do Brasil – as sesmarias deixam de existir e as terras passam a ser registradas em cartórios) – 1822-1850 – ocupação de terras por posseiros.
          • 1850 –  Lei de Terras – Determinava que a aquisição de terras se daria através da compra de terras devolutas do estado. Naquele contexto, as terras eram caras e só se comercializam extensas áreas mediante o pagamento a vista. Desta forma,  somente grandes fazendeiros tinham de fato o acesso a terras legalizadas. Em função desta política, os latifúndios se expandem e consolidam seu domínio no Brasil.  
          • 1930 Cria-se o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma agrária. Essa instituição é responsável por realizar levantamentos sobre a situação das propriedades rurais e das terras devolutas no território brasileiro.
          • 1964 – Estatuto da terra. Este documento reconheceu a grande concentração de terras existentes no Brasil e apontou a necessidade de reforma agrária.
          • A partir de 1970 reforma agrária. No intuito de colonizar áreas pouco povoadas, sobretudo a região norte, foram vendidos e distribuídos lotes de terras na Amazônia. Esse processo ficou denominado projetos de colonização.
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          Estatuto da terra

          O Estatuto da Terra de 1964 dividia os imóveis rurais em 4 categorias:

          ► Minifúndio: são as propriedades inferiores ao módulo rural* da região. Correspondem à cerca de 72% dos imóveis rurais do país. Nestas áreas, as principais atividades são agricultura de subsistência;

          ► Latifúndio (por dimensão): são as propriedades agrárias com área superior a 600x o módulo da região. Correspondem a menos de 0,2% do número total dos estabelecimentos rurais. As principais atividades são: cana-de-açúcar, café, soja, cacau, arroz, algodão, pecuária;

          ► Latifúndio (por exploração): corresponde aos imóveis de 600x o módulo rural onde a terra é improdutiva (mal explorada). Este tipo de estabelecimento abrange cerca de 23% do total de imóveis existentes no Brasil e estão passíveis de Reforma agrária;

          ► Empresa Rural: corresponde aos imóveis com área de, no máximo, 600x o módulo rural. As principais atividades são: o cultivo de soja e arroz.

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