Primavera Árabe

Primavera árabe

É o nome dado à onda de protestos, revoltas, bem como revoluções populares contra governos ditatoriais no mundo árabe. 

Estes protetos começaram a partir de 2011 nos países do Norte da África, bem como no Oriente Médio.

Causa: A raiz dos protestos é insatisfação popular pela crise econômica, bem como pela falta de democracia. A população sofre com as elevadas taxas de desemprego e o alto custo dos alimentos, bem como pede por melhores condições de vida.

Principais países envolvidos: Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmem, bem como Barein.
O termo “Primavera” sugeria o florescer das democracias populares, pois faz alusão à Primavera dos Povos, no final do século XVIII, bem como à Primavera de Praga, em 1968. No entanto as mobilizações organizadas dessa vez se basearam fortemente no uso de redes sociais, que conseguiram superar a censura dos governos repressivos, assim como expandir as manifestações, bem como torná-las visíveis ao mundo todo.

A onda de manifestações atingiu vários países árabes e se iniciou após um ato desesperado de um tunisiano de 26 anos, Mohammad Bouazizi, pois estava desempregado e trabalhava informalmente como vendedor ambulante de frutas. O rapaz foi expulso pela polícia do local em que vendia suas frutas e, desesperado, para chamar a atenção para a sua situação e protestar contra o autoritarismo da polícia, assim, ateou fogo no próprio corpo e morreu dias depois, mas não imaginara que viraria mártir de tamanho movimento popular.

Como tudo começou?

Seu ato virou símbolo da insatisfação tunisiana, bem como inspirou a população local a se organizar contra o governo.
Os protestos se espalharam rapidamente pelo mundo árabe, bem como muçulmano. Poucos dias após a deposição do ditador tunisiano, diversas manifestações populares também foram registradas, bem como, em países como Egito, Líbia e Síria.

Primavera árabe no Egito

Hosni Mubarak governou o Egito de forma autoritária de 1981 a 2011, mantendo relações estreitas com os Estados Unidos, bem como com as principais potências europeias. As primeiras manifestações da Primavera Árabe no Egito ocorreram em 25 de janeiro de 2011.

Inicialmente, os protestos tinham como foco denunciar abusos, bem como violações de direitos humanos cometidos pela polícia. No entanto, a violenta repressão aos manifestantes gerou uma onda crescente de protestos, que, ademais,  rapidamente se ampliaram para exigir a queda do regime de Mubarak. 

A pressão culminou, afinal, com a renúncia de Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011, bem como o estabelecimento de novas eleições.

Em junho de 2012, o país realizou eleições presidenciais, que revelaram divisões entre os manifestantes. A Irmandade Muçulmana, um movimento fundado em 1928, emergiu como a força dominante, com Mohamed Morsi, do Partido da Liberdade e da Justiça, sendo eleito presidente, bem como apoio dos Estados Unidos.

 

No entanto, o governo de Morsi durou pouco. Em 22 de novembro de 2012, ele emitiu uma declaração constitucional que ampliava seus poderes, bem como limitava a supervisão de suas decisões. 

Isso provocou uma reação negativa,  entre os militares, bem com pela sociedade. Em julho de 2013, os militares lideraram um golpe de Estado para removê-lo do poder. Após o golpe, os militares prometeram redigir uma nova Constituição que atendesse às demandas populares, bem como prometram convocar eleições subsequentes.

O general Sisi, que liderou o golpe, assumiu o poder, bem como continua governando o Egito até hoje. Sob seu regime, o controle militar sobre os três poderes é absoluto, e a repressão tem se intensificado, superando até mesmo os níveis de uma década atrás.

Primavera Árabe na Líbia

Sob a liderança de Muammar Al-Gaddafi, a Líbia possuía o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África em 2010 (0,73) e em 2011, 0,69. Com uma economia fundamentada no petróleo, bem como no  gás, o governo enfrentava pressões para privatizar a exploração desses recursos.

Alguns estudos/autores mostram que a decisão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de intervir no país se deu assim que Al-Gaddafi decidiu priorizar países emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) na renovação dos contratos para exploração de petróleo. Já o argumento justificado pela OTAN, na época, foram ataques da aviação líbia contra civis (ainda hoje não comprovados).

A Otan conseguiu uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e decidiu fazer uma intervenção militar para se livrar de Al-Gaddafi e reestruturar a Líbia. O assassinato de Al-Gaddafi, em outubro de 2011, deu início a um governo de transição que nunca conseguiu estabilizar o país. Vários conflitos eclodiram em todas as regiões da Líbia. Atualmente muitas destas forças (pró-Al-Gaddafi) estão ganhando força novamente. Atualmente, a Líbia passa por um governo de transição orientado pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Primavera árabe no Iêmen

A Arábia Saudita (aliado das potências ocidentais) desempenhou um papel crucial na guerra do Iêmen, um conflito que tem suas raízes na Primavera Árabe. Em 2011, uma revolta popular levou à renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh, que transferiu o poder para seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.

Desde 2015, o Reino Unido, a França, a Arábia Saudita bem como outros oito países árabes, majoritariamente sunitas e apoiados pelos Estados Unidos, têm se esforçado para restaurar o governo de Hadi. Este foi deposto pela milícia rebelde huti, formada por xiitas e apoiada pelo Irã, que atualmente controla a capital, Sanaa. De acordo com as Nações Unidas, o Iêmen enfrenta hoje a maior crise humanitária do mundo, com mais de 80% da população vivendo em situação de extrema pobreza.

 

A Guerra da Síria

  1. Exército Livre da Síria (ELS): Formado por desertores do exército sírio, foi uma das primeiras forças rebeldes organizadas contra o regime de Bashar al-Assad.
  2. Forças Democráticas Sírias (FDS): Uma coalizão liderada pelas Unidades de Proteção Popular Curda (YPG), que lutou tanto contra o regime quanto contra grupos extremistas, como o Estado Islâmico.
  3. Frente al-Nusra: Um grupo jihadista ligado à Al-Qaeda, que se tornou uma das forças rebeldes mais poderosas no conflito.
  4. Estado Islâmico (EI): Um grupo extremista que se expandiu na Síria, capturando grandes áreas de território e implementando um regime de terror.
  5. Hezbollah: Um grupo militante xiita libanês que apoiou o governo de Assad, fornecendo combatentes e apoio militar.
  6. Comitês de Coordenação Local (CCLs): Grupos ativistas que organizaram protestos e forneceram informações sobre os eventos em solo sírio.
Bashar al-Assad 

Coalizões

  1. De um lado, estava uma coalizão representada por EUA, França, Inglaterra, Otan, Turquia e monarquias árabes reacionárias – contra o governo do Bashar al Saad e EI.
  2. Do outro, um eixo de resistência idealizado pelo general iraniano Qasem Soleimani e pela organização política xiita Hezbollah, com colaboração da China e da Rússia – A favor do governo de Bashar al Saad e contra o EI. Havia ainda uma terceira força, o Estado Islâmico, que avançou sobre território sírio e também pretendia derrubar Bashar Al-Assad.

A Síria tinha cerca de 23 milhões de habitantes antes da Primavera Árabe. A guerra fez com que a população caísse à metade, entre mortos e exilados. Entre os que permaneceram no país, 80% vivem abaixo da linha da pobreza, aliás, mesmo percentual do Iêmen. 

Saldo da Guerra da Síria

  • 400mil mortes
  • 13 milhões de refugiados

Fonte https://news.un.org/pt/interview/2022/03/1782392

Resultados da Primavera Árabe

  1. Com exceção da Tunísia, que realizou e respeitou eleições democráticas, nos países que passaram pela Primavera, governos teocráticos, bem como autoritários foram depostos e substituídos por governos de coalizão antidemocráticos, militarizados,  nocivos à auto-organização dos povos e à soberania dessas nações, ricas em petróleo ou localizadas em rotas estratégicas entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho.
  2. A Primavera Árabe também desencadeou guerras civis de grandes proporções em países como a Síria, Líbia, bem como no Iêmen, algumas das quais estão ativas até hoje.
  3. No Egito, houve uma tentativa frustrada de demografia além do avanço brutal do Estado Islâmico, atualmente enfraquecido, porém ainda atuante.
  4. Houve, sim, alguns pontuais avanços em países como Marrocos, Jordânia e Arábia Saudita – onde, em 2018, mulheres ganharam finalmente o direito de dirigir veículos. Porém, para um movimento que sonha com mais liberdade, democracia, serviços públicos de qualidade, o resultado ainda é desanimador.

Inverno Islamita

Em 2011, a queda do presidente Ben Ali, da Tunísia, dava início à Primavera Árabe. No entanto, percebeu-se que  o desejo de democracia foi sufocado na maioria dos países, além de ter contribuído para o fortalecimento de grupos extremistas, como o Daesh (ISI/Estado Isâmico), levado à redução de liberdades individuais, como no Egito, e a situações de guerra total, como na Síria (país do Oriente Médio).
É por isso que muitos analistas afirmam que a “primavera árabe” foi substituída por um “inverno islamita”. Os principais países diretamente envolvidos no processo hoje vivenciam realidades distintas, bem como condições políticas variadas. Veja alguns deles:
Tunísia – Está em uma transição para a democracia. Especialistas apontam o país como um caso de sucesso relativo da Primavera Árabe. Já realizou duas eleições gerais, viu o governo trocar de mãos de forma pacífica, bem como aprovou uma Constituição progressista em 2014.
Egito A situação do Egito é de turbulência social, bem como política. Ademais, uma nova ditadura militar, liderada pelo General al-Sisi, governa o país de forma muito repressora, embora tenha popularidade. Por enquanto, o pais está distante da democracia.
Líbia – O país vive uma situação desastrosa, bem como a existência de confrontos e violência entre facções internas, que pode levá-lo a uma divisão, pois há dois grupos rivais se declarando no governo, um em Trípoli e outro em Tobruk, cada um lutando para conquistar o apoio das milhares de milícias que lutam no país e o reconhecimento internacional, deixando como resultado um país profundamente dividido.
Síria – Foi o país mais impactado. Alí, a guerra se arrastou por longos anos, bem como provocou conseequências extremas. Apesar da declaração de vitória do governo sobre os rebeldes, o país permanece fragmentado, com áreas controladas por diversas facções bem como diversos problemas sociais. A reconstrução é lenta, bem como os desafios humanitários continuam, enquanto milhões de sírios ainda vivem em condições precárias.

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